RABINO LEOPOLD COHN, D.D.

1862 -1937

Por H. B. CENTZ

Cohn

A vida começou para Leopold Cohn na pequena cidade de Berezna que fica na parte oriental da Hungria. Com a idade de sete anos uma grande calamidade se abateu sobre o menino; ele perdeu ambos os pais no mesmo ano e foi deixado para lidar com essa trágica mudança da melhor maneira que pode e por conta própria. Nos anos posteriores, muitas vezes ele lembrava como aqueles terríveis dias de solidão e a amarga luta pela existência lhe ensinara a confiar em Deus de todo seu coração. Portanto, parecia natural pensar que o jovem Cohn, após sua confirmação, e com a idade de 13 anos, estivesse determinado a entrar em um curso de estudo com vista a tornar-se eventualmente um rabino e líder entre seu povo. Disto ele deu bom testemunho de si mesmo como estudante que concluíra o curso com a idade de 18 anos, pois se formou nas academias talmúdicas com um  elevado conhecimento e menções honrosas de conceituado professor da Lei.

Após a conclusão de seus estudos formais e o recebimento subsequente da smicha ou ordenação, o rabino Cohn contraiu-se num casamento muito feliz e, de acordo com o costume da época, foram morar na casa paterna de sua esposa, para lá dedicar-se ao estudo mais aprofundado das sagradas escrituras.

Através dos anos de devoção e de estudo religioso quase ascético, os problemas efervescentes de seu povo, os problemas do exílio e da promessa há muito tempo adiada da redenção através da vinda do Messias, haviam se tornado profundamente marcados no espírito do rabino, e agora que ele tinha obtido tempo disponível, podendo seguir o chamado de seu coração, ele se entregou em sincera oração e pesquisa na esperança de encontrar soluções e respostas para esse problemas. 

À parte de seus devocionais matinais, estava a repetição do artigo XII do credo judaico, que declara: “Eu acredito com uma fé perfeita na vinda do Messias, e ainda que ele demore, vou esperar diariamente pela Sua vinda.”. O uso habitual desta afirmativa de fé assoprou a chama do desejo do seu coração para o cumprimento das promessas de Deus e a rápida restauração do Israel disperso, até que, já não mais satisfeito com as orações formais, ele começou a levantar-se nas vigílias da meia-noite e a sentar-se no chão de terra e lamentar a destruição do templo e a implorar a Deus para que apressasse a vinda do Libertador.

“Por que o Messias demora? Quando ele virá? ” Estas foram questões que agitavam de contínuo  a mente do jovem rabino. Um dia, enquanto debruçado sobre um volume do Talmude, ele se deparou com a seguinte citação: “O mundo vai durar seis mil anos. Haverá dois mil anos de confusão, dois mil anos debaixo da lei e dois mil anos da era do Messias “. Com apressado interesse ele se voltou em busca de luz sobre a passagem nos escritos de Rashi, o melhor comentarista judeu, mas a explicação que lá encontrou lhe parecia ser de pouca ajuda. “Depois do segundo período de dois mil anos”, lia-se “o Messias virá e os reinos iníquos serão destruídos.”. Quando ele se afastou daqueles pesados livros, a solução de seu problema pareceu-lhe ter se tornado mais difícil do que nunca. De acordo com os cálculos talmúdicos, o Messias deveria ter vindo há muito tempo. No entanto, houve o exílio, tida como a mais amarga realidade da vida judaica a ser considerada. “Poderia ser isso possível?”, ele se perguntava, “que o tempo determinado por Deus para a vinda do Messias passou e a promessa não foi cumprida?”. Dolorosamente perplexo, o rabino Cohn decidiu começar um estudo das previsões originais dos Profetas, mas a própria contemplação de tal ato o encheu de medo, pois, de acordo com o ensinamento dos rabinos “Amaldiçoados são os ossos daqueles que calculam o fim dos tempos”. E foi assim que, com mãos trêmulas e esperando a qualquer momento ser atingido por um raio do céu, mas com uma vontade irresistível, ele abriu o livro do profeta Daniel e começou a ler.

Quando chegou ao nono capítulo, a luz começou a nascer sobre ele. Ele tinha atingido uma fonte de verdade até então escondida, encoberta pelos comentários dos reverenciados doutores da lei.  A partir do vigésimo quarto versículo do capítulo que estava diante dele, ele deduzira sem dificuldade, que a vinda do Messias deveria ter ocorrido 400 anos depois de Daniel ter recebido do mensageiro divino a profecia das Setenta Semanas. O estudioso, acostumado com os tratados polêmicos intrincados e muitas vezes velados do Talmude, agora encontrava-se estranhamente cativado pelas declarações claras que satisfaz a alma vinda da Palavra de Deus, e não demorou muito para que ele começasse a questionar em sua mente a confiabilidade do Talmude, uma vez que em matéria tão vital, divergia das Sagradas Escrituras. Para ler mais sobre as 70 semanas da profecia do profeta Daniel, clique AQUI

Não foi fácil e nem uma questão agradável para o rabino Cohn, líder de uma comunidade judaica, diariamente ganhando popularidade entre o seu povo, cogitar dúvidas sobre a autoridade do Talmude. Além da inquietação que isso trouxe para a sua própria alma, ele sentiu que a dúvida era herética num homem de sua posição e, de alguma forma, mística e prejudicial para o bem-estar de Israel. No entanto, cada momento de sóbria contemplação o fazia a se confrontar com a pergunta: “Devo crer na Palavra de Deus, ou devo fechar os olhos para a verdade?”. No meio do conflito assim produzido em seu coração, havia uma oração que subia aos seus lábios com mais frequência do que qualquer outra: “Desvenda os meus olhos, Ó Senhor!, que eu veja as maravilhas de Tua lei.”

Sem estar totalmente consciente disso, o rabino Cohn estava viajando em direção a uma despedida das formas tradicionalistas. A crise era inevitável e rompeu sobre ele um Chanukah. Era a temporada da Festa da Dedicação, e como era seu costume, ele planejava pregar ao seu povo sobre o significado da festa. Ele não tinha a intenção de se referir em seu sermão sobre as suas dúvidas sobre o Talmude, ou sobre as suas recentes descobertas na profecia de Daniel, mas quando ele se levantou para falar de alguns de seus pensamentos mais profundos, brotou dentro dele o desejo de pronunciar essas descobertas. O efeito de suas palavras sobre a congregação tornou-se imediatamente evidente. Sussurros cresceram para protestos barulhentos, e antes que o sermão pudesse se estender por muito tempo, o culto terminou em tumulto. Naquele dia, iniciou-se uma série de perseguições mesquinhas que roubaram da vida do jovem rabino a sua alegria, tornando o seu ministério difícil a ponto de se tornar impossível.

O Novo Testamento era ainda um livro desconhecido para o rabino Cohn, consequentemente,

nunca entrou em sua mente a olhar nele para o cumprimento das previsões proféticas do Antigo Testamento. Como um tornado na alma lançando rapidamente para fora um pedaço de alguma coisa, assim decidiu ele procurar o conselho de um colega rabino em uma cidade distante, um homem mais velho do que ele em muitos anos, cujo conhecimento e piedade mantinha em grande consideração. Certamente, pensou ele, “o meu problema não é novo. Outros devem ter se intrigado sobre isso e devem ter encontrado alguma resposta satisfatória, do contrário, como poderiam continuar a estudar e ensinar o Talmude”. Mas aqui novamente, suas esperanças estavam destinadas a serem frustradas e jogadas ao chão. Quando Cohn mal tinha terminado de aliviar a alma até então perturbada, o rabino cuja ajuda ele viajou de tão longe para encontrar, começou a atacá-lo com a sua língua e derramar sobre ele uma verdadeira torrente de insultos e vitupérios: – “Então você tem a intenção de encontrar o Messias, descobrir o inescrutável? Você nem saiu da casca, e já tem a ousadia de questionar a autoridade do Talmude! Os ensinamentos de nossos mestres já não são bons o suficiente para você? Você fala para todo o mundo como os renegados do outro lado do oceano, de quem eu recentemente li em um jornal de Viena, afirmando que o nosso Messias já veio. É melhor você voltar ao seu posto meu jovem, e dar-se por feliz por você ainda não ter sido privado dele. E fique avisado, se você persistir nessas ideias profanas, um dia você vai terminar o seu rabinato em desgraça e, provavelmente, acabar entre os apóstatas na América. “

Desapontado e se sentindo pisoteado, o Rabino Cohn despediu-se. Mas, apesar de sua humilhação, um novo pensamento estava começando a se formar em sua mente, e, com ele, parecia ver um vislumbre de uma nova esperança num distante longínquo. América! A terra da liberdade! O refúgio dos perseguidos! Lá, ele iria continuar a sua investigação, ele pensou.

Em março de 1892 o rabino Cohn já se encontrava na cidade de Nova York, sendo calorosamente recebido pelos seus compatriotas, muitos dos quais ele tinha conhecido pessoalmente em seu país. O rabino Kline da sinagoga húngara, que o tinha precedido para a América, e para quem ele tinha uma carta de recomendação, o recebeu com muito carinho e até mesmo ofereceu-lhe um lugar de serviço temporário em sua sinagoga, enquanto aguardava uma chamada para uma congregação adequada.

Num sábado logo após sua chegada, o rabino Cohn saiu para o habitual passeio de sábado à tarde. Como se tornara seu hábito, ele estava meditando sobre o assunto do Messias. Mas no meio de suas reflexões, quando passava por uma igreja localizada em uma das ruas do gueto, sua atenção foi presa por um sinal escrito em hebraico e anunciando “Encontros para Judeus”. Ele mal sabia o que pensar daquela combinação estranha: Uma igreja com uma cruz em cima dela e reuniões para os judeus!

Enquanto ele estava na frente da igreja absorvido em pensamentos, um compatriota seu agarrou-o pelo braço e disse com uma voz carregada de medo – “rabino Cohn, é melhor se afastar deste lugar”. O rabino ficou surpreso, mas ao mesmo tempo o seu sentido de questionamento fora despertado: O que havia ali sobre aquela igreja com o sinal hebraico em cima dela? – “Há judeus apóstatas naquela igreja”, lhe fora dito com respiração ofegante”, “e eles ensinam que o Messias já veio”. Ao som dessas palavras a pulsação do rabino Cohn acelerou. Eles ensinam que o Messias já veio! Seriam essas as pessoas referidas por aquele rabino a quem ele havia visitado antes de deixar a Hungria? Isso era algo que valia a pena descobrir.

Assim que ele pudesse se despedir de seu companheiro e após ter certeza de que ele não estava sendo observado, ele rapidamente iria refazer seus passos em direção da igreja. Mal tinha ele posto os pés dentro da porta, quando uma visão veio de encontro aos seus olhos que o obrigou a voltar. O orador no púlpito estava com a cabeça descoberta, e assim também estava a audiência. Como teria sido para qualquer judeu ortodoxo, aquilo foi para o rabino Cohn um grande sacrilégio. Na saída, no entanto, ele pensou que deveria explicar ao sacristão sua razão para sair e recebeu dele a sugestão que, mesmo que ele não pudesse ficar para o culto, seria, no entanto, bem-vindo se solicitasse um encontro privado com o ministro em sua casa.

Na segunda-feira seguinte,ainda um pouco afetado pela sua experiência no sábado, o rabino Cohn criou coragem suficiente para apresentar-se no endereço do ministro. Ele entrou na casa com muitas dúvidas, mas a impressão feita sobre ele pela personalidade graciosa do ministro, um judeu cristão, e pelo fato de que o homem era como ele, um Talmudista treinado, além disso, descendente de uma famosa  família rabínica, rapidamente o deixaria completamente a vontade. Antes de perceber o que estava fazendo, ele encontrou-se relatando para o seu amigo recém descoberto a história de sua jornada messiânica.

Perto do final da entrevista, observando que o visitante estava completamente familiarizado com o seu conteúdo, o ministro entregou-lhe um exemplar do Novo Testamento em hebraico e pediu-lhe para estudá-lo em seu tempo livre. Recebendo com mãos ansiosas o livro que estava destinado a transformar a sua vida e ministério, ficou ávido para examiná-lo. O rabino Cohn abriu o livro e foi para a primeira página e seus olhos caíram sobre as primeiras linhas do Evangelho de Mateus: “Este é o livro da geração de Yeshua (Jesus), o Messias, filho de David, filho de Abraão. “

Os sentimentos que essas palavras despertaram nele não tinham descrição. Parecia-lhe que tinha finalmente atingido a meta de sua longa jornada. Os sacrifícios que tinha feito, a separação da esposa e filhos que ele tinha sofrido, os dias que passara em oração agonizante, todas essas coisas estavam prestes a dar os seus frutos e receber sua recompensa. O problema que nem ele, nem àqueles que ele tinha consultado podiam resolver, era agora respondido por um livro, e esse livro estava em suas mãos. Certamente tal livro deve ter chegado a ele pela vontade do Céu. Deus finalmente respondera às suas muitas orações, e agora, ele tinha certeza, ele iria ajudá-lo a encontrar o Messias.

Tomando licença de seu gentil anfitrião, o rabino Cohn correu o mais rápido que pode para o seu quarto e, fechando a porta, entregou-se ao estudo do precioso livro, sua pérola de grande valor – “Comecei a ler às onze horas da manhã”, escreveu ele mais tarde, refletindo sobre os acontecimentos daquele memorável dia”, e continuei até uma hora da madrugada. Eu não conseguia entender todo o conteúdo do livro, mas eu podia pelo menos ver que o nome do Messias era Yeshua (Jesus), que Ele nasceu em Belém de Judá, que tinha vivido em Jerusalém e se comunicava com o meu povo, e que Ele veio justamente no tempo previsto na profecia de Daniel. Minha alegria era sem limites”.

Mas se ele tivesse sido capaz de olhar para o futuro, o rabino Cohn teria visto outros dias de tristeza guardados para ele. Estreito e penoso é o caminho da fé em um mundo de incredulidade. Seu primeiro grande choque veio na manhã seguinte, quando ele tentou compartilhar sua descoberta com o rabino Kline, que mais recentemente, tinha se oferecido para ajudá-lo a encontrar um posto. “Você é um sonhador selvagem”, gritou seu colega rabínico quando ele tinha ouvido a história de Cohn. “O Messias que você diz que você encontrou é ninguém menos que o Jesus dos gentios. E quanto a este livro”, disse ele, arrancando o Novo Testamento das mãos de Cohn, “um rabino com o conhecimento que você tem não deveria nem mesmo segurar, muito menos ler esta produção vil dos apóstatas. Isto é a causa de todos os nossos sofrimentos”. E com estas palavras ele jogou o livro no chão e pisou em cima dele com os pés.

Fugindo de sua inesperada explosão de ira, o rabino Cohn sentiu-se mais uma vez como num mar revolto de pensamentos e emoções conflitantes. “Poderia ser possível que Yeshua, o Messias, filho de David, é o Jesus que os gentios adoram?”. Para acreditar sobre um tal como este, seria de fato um ato de extrema idolatria!

Os dias que se seguiram foram para ele preenchidos  com mágoa e pensamentos melancólicos. Mas, aos poucos, ele conseguiu libertar-se das garras do desespero e começou a estudar o problema dele de novo à luz das Sagradas Escrituras. Quando ele se virou para a lâmpada da verdade de Deus, ele encontrou a luz. A visão profética do Messias sofredor começou a penetrar em sua mente ao ler e reler o quinquagésimo terceiro capítulo da profecia de Isaías, mas ainda assim, ele estava bem distante de encontrar a paz da alma. As solenes questões que agora o confrontavam eram: “E se Yeshua e Jesus são as mesmas pessoas?. Como hei de amar ‘o odiado? Como hei de contaminar meus lábios com o nome de Jesus, cujos seguidores têm torturado e morto meus irmãos através de muitas gerações? Como posso participar de uma comunidade de pessoas tão hostis aos de minha própria carne e sangue?”. Estas eram na verdade, questões problemáticas o suficiente para roubar de qualquer homem a sua paz. E ainda, acima de toda a crescente tempestade, houve uma voz mansa e delicada que continuou falando ao seu coração e dizendo: “Se Ele é o Messias predito nas Escrituras, então certamente você deve amá-Lo, e não importa o que outros tenham feito em Seu nome, você deve segui-Lo “.

Ainda hesitante entre duas opiniões, o rabino Cohn decidiu jejuar e orar até que Deus revelasse claramente a ele o que fazer. Quando começou suas súplicas, ele tinha em suas mãos um Antigo Testamento Hebraico. Estando totalmente absorvido em oração, ele se assustou quando o livro caiu de suas mãos no chão, e quando abaixou-se para pegar o livro sagrado, ele viu que tinha aberto no terceiro capítulo da profecia de Malaquias, que começa com as palavras: “EIS que eu envio o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim; e de repente virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais; e o mensageiro da aliança, a quem vós desejais, eis que ele vem, diz o SENHOR dos Exércitos”. Agora todo o seu ser ficou eletrificado para esta consideração e cada sentido de sua percepção fora despertado. Por um momento, ele sentiu que o Messias estava ao seu lado, apontando-lhe para as palavras “Ele já chegou”. Acometido de um sentimento de admiração, ele caiu sobre seu rosto e de seu mais profundo íntimo vieram palavras de oração e adoração. “Meu Senhor, meu Messias Yeshua. Tu és Aquele em quem Israel é para ser glorificado, e Tu és sem dúvida o único que tem reconciliado o Teu povo para Deus. Deste dia em diante eu vou Te servir, não importa a que custo”. E, como se em resposta direta à sua oração uma inundação de luz encheu sua compreensão e para a sua felicidade inexprimível, ele já não achava difícil amar seu Senhor, embora tivesse a certeza agora de que era Jesus a quem estava se dirigindo. Nessa hora, ele sabia que tinha se tornado uma nova criatura no Messias.

Já não consultando mais com a carne e o sangue, Cohn começou a proclamar a todos os seus amigos e conhecidos que o Jesus rejeitado era o verdadeiro Messias de Israel, e enquanto os judeus como um povo não O aceitarem, eles não encontrarão a paz com Deus. A primeira reação de seus amigos foi de uma indulgência engraçada. “O rabino Cohn está confuso mentalmente”, disseram eles, “devido à sua longa separação de seus entes queridos.” Mas quando sua perseverança e seriedade de apelação desafiaram as atenções deles, eles o classificaram como um traidor de seu povo e começaram amargamente a persegui-lo. Alguns até pensaram que seria um ato piedoso “removê-lo” dentre os vivos. Essas são as formas de zelo vazio sobre o conhecimento de Deus!

Quando os compatriotas de Cohn acalmaram-se diante da inevitável aceitação do fato de sua conversão, passaram a enviar cartas para a sua esposa e aos amigos em casa, a fim de informá-los sobre a sua “apostasia”. Como resultado, todas as comunicações entre ele e sua esposa foram logo completamente interrompidas.

Nesse meio tempo os judeus de Nova York estavam em alvoroço sobre o ato do rabino outrora homenageado. Não há nenhuma maneira de estimar o dano da perseguição fanática que teria sido infligida sobre ele, se ele tivesse permanecido muito tempo em Nova York. Mas felizmente, o ministro que lhe deu seu primeiro Novo Testamento soube de sua situação e veio em seu auxílio. Um grupo de amigos foi mobilizado e se comprometeu em dar abrigo e proteção para Cohn; mas quando se tornou claramente evidente que em Nova York sua vida estaria diariamente em terrível perigo, foram tomadas medidas para a sua saída secreta para a Escócia, para que pudesse ter a oportunidade de estudar e reunir forças em um ambiente amigável.

Na cidade de Edimburgo, na Escócia, Cohn recebeu uma recepção cordial entre as pessoas da Igreja Barklay. Foi bom o fato de que ele agora estava entre amigos. Entretanto, ele tinha uma outra batalha pela frente e um outro inimigo para vencer, um inimigo mais sutil e perigoso do que todos aqueles que ele tinha deixado para trás em Nova York. Aproximando-se o dia de seu batismo, ele sentiu que teria que enfrentar o teste supremo de sua vida, e que investido contra ele, estaria Satanás e todos os poderes do inferno. Ele sabia que muitas coisas estariam em jogo para ele. Em termos espirituais ele esperava ganhar muito com uma confissão firme e aberta de sua fé no Messias, mas no aspecto humano, ele estava em perigo de perder tudo o que ele considerava precioso na vida – sua esposa, filhos, amigos, posição, dignidades, em fim, tudo.

Por alguns dias antes de seu batismo, até o exato momento de seu compromisso público solene ao Messias, Cohn viveu sob uma nuvem de pressentimentos sombrios. A oração, a qual recorrera muitas vezes, trazia apenas alívio temporário. Mas na manhã de seu batismo quando chegou na igreja, ele se sentiu fortalecido e animado como se as nuvens haviam se dissipado pela própria presença do Messias a quem estava tão ansioso para confessar. Mais tarde, ele veio a saber como as orações de muitos amigos tinham apoiado ele na hora da batalha e da gloriosa vitória. Prova disto foi uma carta que recebera do Dr. Andrew A. Bonar, o venerável pastor da Igreja Finnieston em Glasgow, que dizia: “O meu povo e eu estávamos orando por você em nosso culto nesta manhã”. Desta forma, Cohn se libertou da vida de que outrora vivia, a fim de se entregar de novo ao serviço de seu povo. Ele já não era um rabino da lei, mas um mensageiro do Messias, carregando em seu coração o segredo da salvação de Israel.

Até agora temos tratado longamente da peregrinação espiritual do rabino Cohn, porque é aí que se encontra o segredo da vida e trabalho desse verdadeiro grande homem. O doutor Leopold Cohn do anos posteriores, o estudioso erudito, o pregador brilhante, o pastor fiel e incansável missionário, só pode ser entendido à luz da busca de sua juventude, quando como uma luz crescente na profissão rabínica, considerou nada precioso demais para ser sacrificado no altar da verdade e dedicado à causa da redenção de seu povo.

A exigência de espaço nos obriga agora a puxar a cortina sobre esse período da vida de Cohn que abrange a sua residência e trabalho na Escócia e seu reencontro com sua esposa e filhos. A história de como a sua família veio a compartilhar sua fé no Messias poderia muito bem ser contada, e certamente merece ser contada, mas em uma narrativa separada. O que eles fizeram é senão, um testemunho adicional à sinceridade e retidão do homem.

Retomamos a história no ponto do retorno de Cohn com sua família para Nova York, no outono de 1893. O tempo decorrido entre esta e a sua primeira chegada em Nova York, não mudara o homem em seu caráter essencial. Ele era o mesmo peregrino apaixonado em busca da verdade, exceto que agora ele tinha suas posições, e o objetivo já não era para ele uma questão de especulação. Ele tinha bebido na fonte de água viva. “Eu sei em quem tenho crido.”

Para o ex-rabino havia apenas um chamado na vida – servir a Deus, e só uma coisa valia a pena fazer – dar a conhecer o caminho da salvação de Deus em Jesus, o Messias. E assim, ao chegar novamente em Nova York, ele começou a imediatamente estabelecer contato com as massas de seus irmãos judeus.

Para garantir uma plataforma para o anúncio do Evangelho, ele abriu uma pequena missão em Brownsville. Sendo um homem de senso prático, dedicou-se não só à pregação, mas também para o alívio das muitas necessidades que ele encontrava na vida dos imigrantes judeus que à  época se aglomeravam aos milhares em Nova Iorque. Contudo, é uma tragédia extremamente chocante saber que em sua primeira tentativa de servir o seu povo em nome do Messias, ele ficava por muitas vezes sozinho. Embora seu trabalho como pregador não faltou popularidade, a comunidade judaica como um todo ainda olhava para ele com olhos hostis, e os cristãos, que deveriam ter suportado suas mãos ocupadas, reuniam-se para auxiliá-lo demasiadamente devagar. Antes de ir muito longe com seu projeto missionário, as joias de sua esposa, um símbolo de afluência do passado tiveram que ser sacrificadas a fim de prover o aluguel para a humilde sala de reunião. Vieram dias em que a dispensa da pequena família do missionário era bastante desprovida de alimentos e dias quando as crianças tinham que ser enviadas para a escola mal alimentadas. Aqueles devem ter sido dias de partir o coração, o suficiente para esmagar o mais vigoroso dos espíritos, mas Cohn continuou impávido, confiando em si mesmo e em seu amado de Deus, que o chamara das trevas para a sua maravilhosa luz.

A perseguição também deve ter sido uma dura provação para o espírito sensível do jovem missionário; mas se houvesse cicatrizes infligidas por línguas e mãos cruéis, estas eram somente conhecidas por Deus. Cohn nunca se queixou, mas manteve-se sempre brilhante e esperançoso. Há no registro um incidente relacionado pelo Dr. Cohn há muitos anos para um grupo íntimo de pessoas, a fim de ilustrar o texto “O discípulo não é maior do que o seu Senhor”. “Uma tarde,” ele disse – “Fui entregar em uma casa um Novo Testamento que havia sido solicitado, mas quando cheguei lá, um homem forte veio para cima de mim, primeiro me golpeando com os punhos, e em seguida pulando em cima de mim com os pés. Por fim, ele pegou os meus ouvidos, e levantando a minha cabeça, começou a batê-la várias vezes contra o chão duro, o tempo todo entoando em hebraico: – ‘Estes ouvidos que ouviram do Sinai que não deve ter outros deuses, e que agora ouve aos ídolos cristãos, devem ser puxados para fora”, e enfatizando cada menção das palavras ‘puxados para fora’ com puxões horríveis”. Devido a este episódio Cohn foi para casa com sangue em seu rosto, mas sangue de alguém que sofreu por causa da verdade e que se tornou a semente de uma grande obra.

Mas talvez as provações mais dolorosas que ele teve que sofrer veio do lado de pessoas que eram de mentalidade ostensivamente semelhante a ele “Os falsos irmãos”. Tais personagens foram nomeados pelo apóstolo Paulo, e não há melhor descrição para eles que tenha ainda sido encontrada. Quando o Dr. Cohn já estava estabelecido em seu trabalho com uma grande congregação de judeus que ele tinha convertido para a fé no Messias, não foram encontrados homens de ousadia suficiente para contestar seus motivos e questionar a sinceridade de sua fé. Felizmente, haviam outros, homens de caráter irrepreensível, que sabiam o valor real do Dr. Cohn e permaneceram com ele e por ele até o fim de sua vida.

Dr. Leopold Cohn faleceu em 19 de dezembro de 1937. Seu funeral, realizado no Marcy Avenue Baptist Church, em Brooklyn, NY, e conduzido pela Associação ministerial da qual ele tinha sido um membro ao longo de sua vida, atraiu uma grande presença de amigos e admiradores, tanto judeus como cristãos.

— De: Quando Judeus ficam de frente com Cristo.

Para ler a autobiografia de Leopold Cohn on-line, clique AQUI (THE STORY OF A MODERN MISSIONARY TO AN ANCIENT PEOPLE)

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